Hoje acordei atônita, com a cabeça pesada, um pouco zonza.
Apesar do sono profundo, foi uma noite difícil, lutando para sobreviver a um ataque
de dinossauros famintos. Sabe aqueles pesadelos que parecem tão reais
que você acorda cansado? Parecia que tudo aquilo aconteceu de verdade.
Enquanto tomava banho, por alguns minutos deixei a água cair
sobre o meu rosto e fiquei pensando naquele pesadelo. Ao mesmo tempo que era
assustador, por parecer tão real, era engraçado e eu me peguei rindo e pensando:
“Sério? Dinossauros?”.
A última vez que tive pesadelos com dinossauros foi na minha
infância. Tive inúmeros deles, principalmente depois de assistir cada sequência
de Jurassic Park. Como eu tinha medo do Tiranossauro Rex ou daqueles Velociraptors!
Mas por que depois de tantos anos, mesmo sem ter assistido nenhum filme ou série
de dinossauros, fui ter pesadelo logo com isso?
Desisti de tentar achar alguma resposta. Precisava voltar
pra realidade. O trabalho me espera. E como tinha trabalho! Na mesma hora já
estava pensando em todas as tarefas que estavam acumuladas da minha agenda de
ontem, que não havia conseguido fazer.
Eu havia me esquecido do pesadelo com os dinossauros, mas no
final do dia, durante a sessão de terapia, me ocorreu de comentar sobre ele com
a minha terapeuta. Não queria saber o significado, não queria interpreta-lo, queria
apenas comentar. Mas eu sei que para um psicólogo um pesadelo é um prato cheio
para interpretações e me permiti pensar mais sobre isso por mais alguns
minutos.
Naquele mesmo momento me veio uma interpretação, sem pensar
muito, apenas saiu da minha boca: “Talvez seja saudade da minha infância. Naquela
época os dinossauros eram só dinossauros, hoje os dinossauros são outros.”
Eu estava passando por uma semana muito atribulada no
trabalho. Um colega estava de férias e eu estava com uma parte da
carga de trabalho dele, então estava tendo que me desdobrar para dar conta de
tudo. Aquela carga pesada era o verdadeiro Tiranossauro Rex tentando me
engolir.
No dia anterior havia tido uma reunião importante com um
cliente. Até então eu me recordava do rosto de cada um em volta daquela mesa
enorme de reunião com olhares desconfiados, hoje eles se parecem mais com
velociraptors prontos pra atacar.
No pesadelo eu me escondia deles. Num certo momento, eu
tentava me esconder dentro de um quarto. Eu sabia que ele só perceberia que eu
estava ali se eu me mexesse, pois ele não podia sentir o meu cheiro, nem tinha
uma visão muito boa. Enquanto ele se aproximava do quarto me encolhi num canto,
me cobri com um cobertor e fiquei ali imóvel, segurando a respiração ofegante e
o tremor nas pernas, pois sabia que qualquer movimento ou qualquer ruído seria
o meu fim.
Fiquei pensando que por várias vezes naquela semana,
principalmente no dia daquela reunião, minha vontade era me encolher no canto e
ficar ali quietinha, só esperando o “perigo” passar. Mas não, eu não podia me
esconder. Os dinossauros estavam ali na minha frente e eu precisava
enfrenta-los. Tinha um Tinanossauro Rex tentando me engolir durante todos
aqueles dias, mas eu precisava enfrenta-lo.
Não acredito que sonhos querem te dizer alguma coisa, não no
sentido de premonição, mas acredito que podem ser uma forma do nosso
inconsciente dizer alguma coisa sobre nós mesmos. Na faculdade de psicologia
ouvi que os sonhos refletem os nossos desejos ou medos mais profundos. Naquela manhã
o pesadelo não parecia fazer muito sentido, mas depois de pensar um pouco sobre
ele parece que as coisas se encaixam.
Aqueles dinossauros não eram apenas meros dinossauros. Eles
representavam cada desafio que eu tenho enfrentado. Não era apenas um mero
pesadelo, era a representação dos meus medos.
Me lembro claramente de um momento em que estava junto com a
minha família e estávamos procurando um lugar seguro pra esconder. Minha avó pediu
que ficássemos parados que ela iria na frente para checar se era seguro. Me
lembro de olhar apreensiva ela chegar até a esquina e ser derrubada violentamente
por um velociraptor. Só tive tempo de correr, sem rumo, em prantos, lutando pra
sobreviver.
Se me perguntar hoje qual é o meu maior medo, eu digo que é
perder alguém querido. Eu já enfrentei esse dinoussauro antes e não foi nada
fácil. É o maior e mais temível de todos. Ele me perseguiu por muito tempo até
que eu pudesse encontrar um alívio. Não, eu não estou preparada pra enfrentar
outro desse.
Foi apenas um sonho, pensei quando acordei. Mas quanta coisa
ele me disse! Me disse que os dinossauros estão por aí, em toda parte e que não
adianta correr e me esconder, que já não sou mais aquela menina frágil que se escondia debaixo do cobertor e
esperava o perigo passar. Eu preciso enfrenta-los, cada um deles, dia após dia.
Os dinossauros ainda existem, apenas mudaram de forma.