terça-feira, 16 de julho de 2019

Pesadelo de infância




Hoje acordei atônita, com a cabeça pesada, um pouco zonza. Apesar do sono profundo, foi uma noite difícil, lutando para sobreviver a um ataque de dinossauros famintos. Sabe aqueles pesadelos que parecem tão reais que você acorda cansado? Parecia que tudo aquilo aconteceu de verdade. 

Enquanto tomava banho, por alguns minutos deixei a água cair sobre o meu rosto e fiquei pensando naquele pesadelo. Ao mesmo tempo que era assustador, por parecer tão real, era engraçado e eu me peguei rindo e pensando: “Sério? Dinossauros?”.

A última vez que tive pesadelos com dinossauros foi na minha infância. Tive inúmeros deles, principalmente depois de assistir cada sequência de Jurassic Park. Como eu tinha medo do Tiranossauro Rex ou daqueles Velociraptors! Mas por que depois de tantos anos, mesmo sem ter assistido nenhum filme ou série de dinossauros, fui ter pesadelo logo com isso?

Desisti de tentar achar alguma resposta. Precisava voltar pra realidade. O trabalho me espera. E como tinha trabalho! Na mesma hora já estava pensando em todas as tarefas que estavam acumuladas da minha agenda de ontem, que não havia conseguido fazer.

Eu havia me esquecido do pesadelo com os dinossauros, mas no final do dia, durante a sessão de terapia, me ocorreu de comentar sobre ele com a minha terapeuta. Não queria saber o significado, não queria interpreta-lo, queria apenas comentar. Mas eu sei que para um psicólogo um pesadelo é um prato cheio para interpretações e me permiti pensar mais sobre isso por mais alguns minutos.

Naquele mesmo momento me veio uma interpretação, sem pensar muito, apenas saiu da minha boca: “Talvez seja saudade da minha infância. Naquela época os dinossauros eram só dinossauros, hoje os dinossauros são outros.”

Eu estava passando por uma semana muito atribulada no trabalho. Um colega estava de férias e eu estava com uma parte da carga de trabalho dele, então estava tendo que me desdobrar para dar conta de tudo. Aquela carga pesada era o verdadeiro Tiranossauro Rex tentando me engolir.

No dia anterior havia tido uma reunião importante com um cliente. Até então eu me recordava do rosto de cada um em volta daquela mesa enorme de reunião com olhares desconfiados, hoje eles se parecem mais com velociraptors prontos pra atacar.

No pesadelo eu me escondia deles. Num certo momento, eu tentava me esconder dentro de um quarto. Eu sabia que ele só perceberia que eu estava ali se eu me mexesse, pois ele não podia sentir o meu cheiro, nem tinha uma visão muito boa. Enquanto ele se aproximava do quarto me encolhi num canto, me cobri com um cobertor e fiquei ali imóvel, segurando a respiração ofegante e o tremor nas pernas, pois sabia que qualquer movimento ou qualquer ruído seria o meu fim.

Fiquei pensando que por várias vezes naquela semana, principalmente no dia daquela reunião, minha vontade era me encolher no canto e ficar ali quietinha, só esperando o “perigo” passar. Mas não, eu não podia me esconder. Os dinossauros estavam ali na minha frente e eu precisava enfrenta-los. Tinha um Tinanossauro Rex tentando me engolir durante todos aqueles dias, mas eu precisava enfrenta-lo.

Não acredito que sonhos querem te dizer alguma coisa, não no sentido de premonição, mas acredito que podem ser uma forma do nosso inconsciente dizer alguma coisa sobre nós mesmos. Na faculdade de psicologia ouvi que os sonhos refletem os nossos desejos ou medos mais profundos. Naquela manhã o pesadelo não parecia fazer muito sentido, mas depois de pensar um pouco sobre ele parece que as coisas se encaixam.

Aqueles dinossauros não eram apenas meros dinossauros. Eles representavam cada desafio que eu tenho enfrentado. Não era apenas um mero pesadelo, era a representação dos meus medos.

Me lembro claramente de um momento em que estava junto com a minha família e estávamos procurando um lugar seguro pra esconder. Minha avó pediu que ficássemos parados que ela iria na frente para checar se era seguro. Me lembro de olhar apreensiva ela chegar até a esquina e ser derrubada violentamente por um velociraptor. Só tive tempo de correr, sem rumo, em prantos, lutando pra sobreviver.

Se me perguntar hoje qual é o meu maior medo, eu digo que é perder alguém querido. Eu já enfrentei esse dinoussauro antes e não foi nada fácil. É o maior e mais temível de todos. Ele me perseguiu por muito tempo até que eu pudesse encontrar um alívio. Não, eu não estou preparada pra enfrentar outro desse.

Foi apenas um sonho, pensei quando acordei. Mas quanta coisa ele me disse! Me disse que os dinossauros estão por aí, em toda parte e que não adianta correr e me esconder, que já não sou mais aquela menina  frágil que se escondia debaixo do cobertor e esperava o perigo passar. Eu preciso enfrenta-los, cada um deles, dia após dia.

Os dinossauros ainda existem, apenas mudaram de forma.

sábado, 25 de maio de 2019

Tesouro perdido


Como em um oceano, mergulho em sonhos
às vezes tão profundo que sinto me faltar o ar
Tudo é tão distante, mal consigo enxergar
e quanto mais nado, mais longe parece estar

Algumas vezes me canso e permaneço imóvel

apenas contemplando o céu e o som do mar
Outras vezes me encorajo e enfrento as ondas
na esperança de um dia meu tesouro encontrar

Não tem ouro, nem pedras preciosas

nem mesmo em um baú está.
Não se pode ver, nem usar, só sentir,
um sentimento difícil de explicar

É como flutuar em águas calmas

sentindo o leve balanço a me levar
de um lado para outro, sem direção certa
e sem pressa pra chegar.


sábado, 24 de março de 2018

Reencontro




Perdi as contas de quantas vezes me perdi.
Fechava os olhos e quando abria eu não estava mais ali.
Já não sabia se o caminho era o mesmo,
Se ia até o fim ou se voltava pro começo,
A única certeza era que eu não podia desistir.

Caminhando eu seguia,
Sem saber se era noite ou se ainda era dia
E no meu peito ardia uma saudade gritante
Seria pedir muito voltar àquele instante?
Em que, radiante, eu me encontrava quando já não me conhecia.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Vendaval



Calmaria.
A brisa tocava-me o rosto
numa delicadeza quase divina
e meus lábios levemente sorriam
e cantarolavam alguma melodia.

Um novo dia.
Os passos apressados, corriam
Os olhos buscavam as horas
enquanto a boca tensa
cerrava os lábios e mordia.

Ventania.
Vai levando tudo embora,
vai varrendo a agonia.
Fecha os olhos. Não demora,
logo vem a alegria.

Calmaria.

terça-feira, 31 de maio de 2016

Leveza



O pouco não me bastava mais.
Perdi as amarras,
Ganhei horizontes
e os medos que tinha
deixei para trás.

Eu não me aguentava mais.
Era muito fardo,
era muito peso
e minhas pernas fracas
tornavam as caminhadas
pesadelos reais.

Eu não me enxergava mais.
O espelho refletia
uma figura incompleta.
Faltava brilho,
faltava afeto
sobravam feridas
que não fecham jamais.

Agora não me escondo mais,
sou poesia,
estou liberta
e só permito ficar
o que me satisfaz.

sexta-feira, 16 de março de 2012


Queria ver o mundo de onde meus olhos não vêem
Queria sentir os cheiros que os outros sentem também
Queria caminhar pelos trilhos que nunca trilhei
E distribuir os sorrisos que tanto tempo guardei
Tão pequeno é meu mundo, não cabe nem a metade
De tudo aquilo que um dia sonhei
Que imensidão há lá fora! Que tristeza agora
Sou um ponto, uma vírgula e nem sei.
Onde está, linda garota, o seu riso infantil?
Pra onde foram os teus sonhos?
Quem os roubou de ti?
Não fique assim, linda garota,
pois estou aqui, inteira pra te ouvir
Ainda que ainda sofras com a crueldade
que te trouxe até aqui
Espero sim, linda garota,
aquele momento esplêndido de te ver sorrir.


sexta-feira, 9 de março de 2012


Inspiro, respiro, suspiro.
É o ritmo que embala meus dias a fio
É a vida pulsando mais forte que outrora
E a cada dia se torna maior o desafio.

Que hei de querer que a vida me ofereça?
Talvez me enlouqueça, ou nem amanheça

Não importa o quanto ferva minha mente agora
Qualquer hora, lá fora, sempre fará frio. 

sábado, 3 de março de 2012

Espera

Eu via o tempo passando sozinho
E as asas buscando a vida ao vento.
Eu via os passos apressados e aflitos
E tentava entender o que não entendo.
Eu não sabia que a inquietude aqui dentro
Se via tranquila a contemplar o silêncio
Eu sabia que algo muito estranho acontecia
É o pousar das folhas agitadas do pensamento.